Foi bastante inesperado constatar que, ao reciclar um vídeo pré-histórico na postagem de
ontem, acabei dialogando com uma matéria
publicada hoje no New York Times. Se você lê em inglês, vale a pena se esforçar para entender o artigo de Annie Lowrey. No texto, a repórter expõe um fenômeno notado com mais vigor nos Estados Unidos e Europa, territórios desde 2008 mais castigados pela crise econômica. A constatação é de que a geração Y ou
millenials vem se deparando, pela primeira vez, com a necessidade de controlar gastos. Algo que os pais dos
baby boomers, ou nossos avós, sabem bem o que é, já que atravessaram tempos de guerra e racionamento.
Ilustração: Jasper Rietman/NYT
Para nós, a prova de fogo é ainda maior. As ideologias, esvaziadas, foram substituídas em parte pelo materialismo. Um iphone, mesmo quen ninguém admita isso, é um objeto de desejo, um ideal que literalmente compramos e ostentamos por aí, como a geração X fazia com os ideários políticos (esquerda ou direita).
Mas se não podemos mais vestir a camisa da gastança como antes, o que fazemos? Não somos uma geração de crianças birrentas. Nos controlamos, poupamos os primeiros salários, topamos aquele emprego que nos dá dinheiro e estabilidade, mas não necessariamente a visibilidade e o prazer que nossa natureza pede.
Verdade que essa tendência ainda é, repito, mais observada nos gigantes que levaram os maiores tombos com a recessão. O sonho americano, talvez repaginado e não exibido como tal (que é tão
old fashioned) está doente, mas isso não é necessariamente ruim. Se os jovens de países desenvolvidos encararem o fato de que vão ganhar menos que os pais, e trabalhar mais, afinal viverão mais, talvez o foco mude. Pode crescer uma espécie de minimalismo que abre espaço pra realização imaterial, guardadas as devidas proporções. A sustentabilidade nas relações sociais e econômicas pode ser uma saída. E quem for mais criativo e talentoso vai abrir a porta primeiro.